terça-feira, 25 de maio de 2010

Saudade de antigamente


Antigamente...

Mesmo com tão pouco tempo pra chamar de "antigamente" ainda me lembro das cantigas de roda que minha mão cantava pra mim. Dos "causos" da roça do tempo da minha bisavó. Confesso que me sinto feliz por ter um pouco dessa época pra recordar e lamento pelos que não tem.
Um dia desses lí um texto sobre saudade desse tempo. Ele é um pouco grande mas pra quem fez parte deste tempo, acredito que como eu também se emocionará ao fim da leitura.



"Antigamente a forma de energia era a lamparina.
Antigamente, depois que o sol se ponha no horizonte, as mulheres acendiam as lamparinas para clarearem as casas, as velas nos oratórios, as pessoas sentavam nas calçadas e quem passava ouvia: "Boa noite, compadre, boa noite comadre".
Debaixo dos pés de algaroba, os homens armavam suas redes e ficavam a prosear sobre o bicho da sorte do dia e quem tinha jogado certo, a vaca que havia parido, o boi brabo que tinha de ter sido amansado ou os peixes que davam como a gota no açude da fazenda ao lado. Os mais afortunados passavam a noite a jogar pacarar e os mais velhos a mascarem seus fumos e contar antigos causos acontecidos, histórias de pescadores ou de homens valentes que saiam para caçar em noite de lua e encontravam com a comadre Florzinha ou com a caipora, histórias e histórias de assombração e alma penada.
As mulheres de pano passado nas cabeças como se fosse turbante, outras de bobes ou de toucas feitas com frisos para não assanharem os cabelos, de combinação e anáguas por debaixo dos compridos vestidos bordados ou em chita estampada, depois de todas as obrigações cumpridas, pegavam as crianças entre as pernas e entre uma debulha e outra de feijão, um piolho era catado no cabelo lambuzado de óleo de coco. Algumas declamavam imensas ladainhas, benditos ou cancioneiros, outras contavam fatos das vidas alheias "... aquela cabrita mais nova que vivia de nariz empinado e de batom embuchou.". Falavam e falavam em agonias, todas de uma só vez. Falavam até de alguns mancebos, cabritos vistosos que haviam bulido com as virtudes alheias, que andavam visitando mulheres casadas enquanto o marido morria de trabalhar arrancando toco. O falatório corria noite adentro até chegar a hora do anjo e todas de terço nas mãos, parecendo mulheres piedosas, a tirarem as rezas. Algumas até concentradas, outras sem perder nenhum fato: "... mache pra dentro menino, mache par dentro diacho...".
Antigamente, as crianças, as mais afoitas, largavam-se dos colos das mães e iam brincar na rua. Rua larga, ventilada, sem asfalto. Rua acima, rua abaixo a correrem livremente, sem medo, sem maldade. Brincavam de bola de meia, de bandeirinha, queimada, sete pecados. Confeccionavam suas pipas desenhando a liberdade. Meninos risonhos de joelhos machucados, braços quebrados, amigos inseparáveis. Os maiores, já de pente no bolso, camisa de botão e fios de bigode, brincavam de passar o anel querendo beijar as mais mocinhas mais bonitas e desejadas, de melancia ou passarás, só pra ter o gosto de pegar na mão de quem gostava ou ser preso entre os braços e poder escolher entre ruge ou batom; outro brincavam de batalhão para mostrar a agilidade, a força , a vontade; de pião na competitividade; esconde-esconde...
Antigamente não existia automóvel e o meio de transporte mais moderno era as charretes, as carroças puxadas pelos bois; para outros o lombo do jumento, o cavalo. E era uma felicidade só. Toda a família em passeio, de viagem, visitando os parentes. Quantas horas e dias e semanas e meses duravam? E assim a vida ia... No outro tempo, as pessoas acordavam e logo diziam: “bença pai, bença mãe". E do outro lado tantas respostas: "Deus te dê fortuna, vergonha, sorte, bom casamento...". E um sorriso era desenhado do tamanho da promessa, porque as pessoas acreditavam na palavra das outras. Era como se fosse dívida, tinha crédito sem fiador .
A roupa nova guardada, ensacada, na mala, era para os dias gloriosos, dias de finados, feriados, aniversários ou datas comemorativas. Tinha também a roupa dos domingos, dia que a família ia a missa ou ao batismo da criança. Caso fosse o primeiro filho nascido homem, corado, macho, robusto, de honra levava o nome do pai ou do avô ou do bisavô; as mulheres eram Marias, tantas Marias... Da paz e da luz e do rosário e de Nazaré ou nomes de santa: Rita, Madalena, Luzia. Todos nascidos das mãos das comadres parteiras, comadres sábias, santas, carpideiras. As crianças que adoeciam tinham que passar pelas rezas delas, pelos galhos de urtiga ou pisa de pião roxo ou fumaça do cachimbo ou chá de ervar. Caso não dessem jeito era que seriam medicadas.
A água de beber era de chuva aparada no inverno passado depois da terceira chuvarada, coada com um pano e armazenada no pote. A água da quartinha era para ser oferecida as visitas e a cadeira de balanço de fitas era a cadeira cativa do dono da casa. Outras águas para outros serviços eram buscadas na roladeira e a roupa lavada na beira do riacho, com as pedras sabão e anil, entre uma e outra cantoria, quarada no sol e passada a ferro em brasa.
Antigamente as pessoas se entendiam, se encontravam e conversavam. Nas quermesses vinham os parques de diversão, o homem do algodão doce, do tiro ao alvo, o contador de história, o homem da perna de pau e o moleque Baltazar, o João redondo e todos os bonecos de fantoches... A correria da molecada, a mulher barbada e o gato no pote, pode? O pau de sebo e os corajosos, o boi valente e o tenente querendo pegar um ou outro ladrão de galinha, um cabra da peste que quis se passar por cangaceiro, um ou outro atropelo que logo, logo se resolvia. Havia também, a queima do Juda e a procissão. O santo no andor, os anjinhos, as lanterninhas, as beatas em devoção. O padre com o sublime sacramento, o coroinha com o turíbulo, as ruas enfeitadas em bandeirinhas, e vivas ao santo...
Antigamente, antigamente o mundo era diferente, a vida tinha suas dificuldades, sua dureza, suas peculiaridades. Existiam os balanços pendurados nas árvores plantadas em frente das casas, as gangorras, os vizinhos que se conheciam e se chamavam pelo nome, que se conheciam pelos sobrenomes, apelidos e nomes inventados.
Nas épocas de fartura, vinham as fogueiras, as espigas de milho, o zabumbeiro, a quadrilha, a celebração da amizade. Antigamente, hoje é um tempo que ficou na saudade. "

Vinicius Filme

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Canto de paz




Paraíso no Jardim de Monet, com certeza um dos mais belos do mundo!

E vale a pena sim!




Como dizia o poeta
Quem Passou Já Vida Por ESSA E não viveu
Mais Ser Pode, Mas SABE Menos do Que eu
Porquê a Vida por forma da Sé Quem PRA SE DEU
Pra Quem amou, chorou pra Quem, Quem sofreu pra
Ah, curtiu Quem Nunca Uma Paixão Nunca vai ter nada, nao
Não faz mal Pior HÁ uma descrença Que
Mesmo o amor Que Não compensa É Melhor Que a solidão
Braços Abre OS TEUS, irmão meu, Deixa Cair
Pra Que Somar se uma gente PoDE Dividir
Eu francamente Já Não Quero Nem saber
De quem Não vai PORQUE TEM medo de Sofrer
Ai de Quem não Rasga o Coração, Não vai ter esse mês Perdão
Quem curtiu Nunca Uma Paixão, Nunca vai ter nada, nao

Vinícius de Moraes